Mensagens

Achado na net (6)



Sobre a interpretação ao vivo de "Como Calha" por B Fachada no Eléctrico, da Antena 3, aqui.

Godspeed: The Pace of Being Known

Pequeno documentário sobre a agitação do mundo contemporâneo.

Ver aqui.

Times New Roman – história

Alberto Caeiro / Fernando Pessoa (4)

When spring comes round again
I may no longer be in the world.
I would like to think that the spring is a person
So that I could imagine she would weep,
Seeing she had lost her only friend.
But the spring isn’t even a thing:
It’s a manner of speaking.
Not even the flowers come back, or the green leaves.
There are new flowers, new green leaves.
There are other sweet days.
Nothing returns, nothing is repeated, because everything is real.

(de Poemas Inconjuntos; trad. Magaret Jull Costa)

Leituras de Verão (5)

Dava Sobel, Galileo's Daughter: A Historical Memoir of Science, Faith, and Love (New York: Bloomsbury, 2011)
Primeira publicação 1999

Martin Marty, Martin Luther (New York: Viking, 2004)

Mário de Carvalho, Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde, 12.ª ed. (Lisboa: Caminho, 2008)
Primeira publicação 1994

Richard Zimler, The Gospel According to Lazarus (London: Peter Owen, 2019)
Primeira publicação 2016

John Baillie, A Diary of Private Prayer (New York: Charles Scribner's Sons, 1949)
Primeira publicação 1936

Fernando Pessoa, The Complete Works of Alberto Caeiro (New York: New Directions Paperbook, 2020)
Ed. Jerónimo Pizarro e Patricio Ferrari; Trad. Margaret Jull Costa e Patricio Ferrari

Fernando Pessoa, A Little Larger Than the Entire Universe: Selected Poems (New York: Penguin Books, 2006)
Ed. e trad. Richard Zenith

Vergílio Ferreira, Aparição (Lisboa: Círculo de Leitores, 1988)
Primeira publicação 1959

James M. Kittelson, Luther the Reformer: The Story of the Man and His Career (Minneapolis: Ausgsburg, 1986)

Margery Kempe, The Book of Margery Kempe (Oxford: Oxford University Press, 2015)
Trad. Anthony Bale

Citação 18: Mário de Carvalho

Pisoteei meticulosamente o desenho com as minhas botinhas cardadas, até restar apenas uma lavra de areia remexida. Acto inútil. Não se apagam as realidades destruindo-lhes os símbolos. Talvez muitas milhas além, no caminho do cardador outros desenhos aparecessem e outras memórias fossem reavivadas. Estava extinta a congregação do peixe? Eu procurava convencer-me de que sim. Que sabia eu?

Mário de Carvalho, Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde, 1994

Alberto Caeiro / Fernando Pessoa (3)


This is perhaps the last day of my life.
I saluted the sun, raising my right hand, 
But I wasn't saluting it in order to say goodbye.
I was simply showing how pleased I was still to see it, nothing more.

(de Poemas Inconjuntos; trad. Margaret Jull Costa)

Emily Dickinson


Who has not found the heaven below
Will fail of it above.
God's residence is next to mine,
His furniture is love.

Black Lives Matter

George Floyd Memorial, Minneapolis, MN. 5 de Agosto.

Achado na Net (5)

 

Sobre The Book of Margery Kempe, trad. Anthony Bale (Oxford: OUP, 2015).

Citação 17: Lutero

The summons of death comes to us all, and no one can die for another. Every one must fight his own battle with death by himself, alone. We can shout into another's hears, but every one must himself be prepared for the time of death, for I will not be with you then, nor you with me. Therefore every one must himself be armed with the chief things which concern a Christian. And these are what you, my beloved, have heard from me many days ago.

Martin Luther, Sermon on Invocavit Sunday (9-3-1522); AE 51:70

Citação 16: Lutero

We must [...] have love and through love we must do to one another as God has done to us through faith. For without love faith is nothing, as St. Paul says: If I had the tongues of angels and could speak of the highest things in faith, and have not love, I am nothing.

Martin Luther, Sermon on Invocavit Sunday (9-3-1522); AE 51:71

Teolinda Gersão: Lançamento de Alice e Outras Mulheres

A querida amiga Teolinda Gersão estará ao vivo aqui para o lançamento do livro Alice e Outras Mulheres, uma antologia de contos da autora organizada por Nilma Lacerda. A professora de Literatura Portuguesa Marcia Manir também participará na conversa moderada por Taty Leite. O livro colige textos de Teolinda sobre mulheres que, tendo sido publicados ao longo de 40 anos, são agora publicados pela primeira vez no Brasil, pela Oficina Raquel. O evento acontecerá amanhã, às 17h, horário de São Paulo. Para assistir, inscreva-se no link acima.

Fim de tarde


São Francisco em 1906 e a cores



Boas notícias


Ontem, no boletim DealBook do NYT. O regresso do transporte público, por agora, tímido, compreensivelmente.

Citação 15: Galileu


Whatever the course of our lives we should receive them as the highest gift from the hand of God, in which equally reposed the power to do nothing whatever for us. Indeed, we should accept misfortune not only in thanks, but in infinite gratitude to Providence, which by such means detaches us from an excessive love for Earthly things and elevates our minds to the celestial and divine.

Galileu Galilei, Terceira Carta Sobre as Machas Solares a Markus Welser (1-12-1612) [trad. Stillman Drake, 1957]

Citação 14: Denis de Rougemont


Looking for a man and finding only an author, is the reader disappointed by the man or by the author? He is disappointed by the relation of one to the other; by the inadequate man who reveals himself in the author, hence by the author, too, who reveals too little of the man.

Denis de Rougemont, Dramatic Personages, 1947 (trad. Holt, Rinehart and Winston, 1964)

Humor com humor se paga


À primeira vista pareceu uma brincadeira, depois percebi que era mesmo a sério (notícia do Público). Será possível que a direcção de PS Açores tenha uma visão condescendente da população que governa? Ou será isto apenas humor inocente? Talvez seja. No entanto, apesar de o humor que recorre ao estereótipo e ao lugar-comum ser, com certeza, como todo o humor, permitido, ele é raramente inocente. 

Outras imagens da capanha apareceram em que se substitui a vaca por cestas de ananases, queijos e atum-rabilho.




O presidente do PS, Carlos César, publicou a primeira imagem na sua página do Facebook. Tal como ele, alguns comentadores acharam-lhe graça; outros viram nela um insulto ao povo açoriano. Talvez por isso não demorou a aparecerer quem tenha subido à altura.    


Afinal de contas, humor com humor se paga. De preferência, sem insultos.

Arvo Pärt: Arbos



Uma das melhores coisas que ouvi nos útlimos tempos. "Arbos", de Pärt, começa e termina o álbum homónimo, de 1987. A peça foi gravada pelo conjunto de metais da Staatsorchester Stuttgart (a orquestra sinfónica de Estugarda), sob a direcção do estadunidense Dennis Russel Davies. 

Primavera


Caetano Veloso: "Livros"



Sugestão musical da livraria In-Libris no seu blogue. O vídeo usa imagens da curta-metragem The Fantastic Flying Books of Mr. Moris Lessmore, vencedor do oscar dessa categoria em 2012.

Rolling Stones: "Living in a Ghost Town"



Grizelda: Grammar Police


Grizelda no The Spectator, 25 de Abril de 2020.

Quando a realidade transcende a ficção



Diários da Segunda Grande Guerra


Segundo um artigo interessantíssimo de Nina Siegal and Josephine Sedwick, ontem, no The New York Times, "The Lost Diaries of War", existem muitos escritos do período da ocupação nazi da Holanda que estão a ser progressivamente disponibilizados via transcrição digital. 

Estes escritos, diários (mais de 2000) e cartas, foram preservados a pedido do então ministro da educação holandês, Gerrit Bolkestein, no dia 28 de Março de 1944, com o intuito de que no futuro se pudesse, a partir deles, reconstruir a história da Holanda sob o jugo nazi. Muitos holandeses tinham, de facto, passado a escrito as suas experiências durante os quatro anos precedentes, entre eles Anne Frank, cujo diário, pelo menos de nome, é conhecido de todos nós. O país veio a ser libertado em Maio de 1945, e subsequentemente muitos cidadãos entregaram as suas cartas e diários ao arquivo criado para o efeito. Todavia, os autores do artigo lamentam que, na maior parte dos casos, os diários foram ignorados depois da sua catalogação. 

Mais de 90 destes diários já se encontram transcritos na totalidade e disponíveis para leitura no site do Instituto NIOD para o Estudo da Gerra, Holocausto e Genocídio.  

Imagem do NYT. Páginas do diário de Catharina Damen-Ogier, enfermeira da Cruz Vermelha. Neste diário podem ver-se fotografias de colegas da profissão médica e de soldados feridos que tratou, tanto ingleses e franceses, como alemães. 

Tráfego aéreo em Março-Abril


Imagens do Observador e AirNav RadarBox.

Metáforas bélicas


Através da comparação dos textos relevantes de imprensa representativa do Reino Unido, EUA e Alemanha, Sylvia Jaworska, num estudo publicado hoje, 13 de Abril, no Viral Discourse, sugere que a retórica bélica relacionada com o COVID-19 é um fenómeno anglo-americano

O uso de metáforas bélicas tem maior expressão, primeiro, no Reino Unido e, depois, nos EUA. Mas sendo que o estudo analisou apenas a imprensa publicada entre 7 de Janeiro e 31 de Março, a diferença entre os dois países, sugere Jaworska, pode dar-se devido ao atraso relativo do estado de pandemia nos EUA em relação ao Reino Unido, bem como à letargia inicial do governo americano em lidar com a doença.

Já na Alemanha, o uso de metáforas bélicas para falar da pandemia é comparativamente bastante reduzido; palavras dos domínios da ciência e da comunicação são preferidas. Mas aqui  o menor recurso à linguagem bélica pode ser circunstanciada pelo prurido (aliás justificado) causado na imprensa alemã pela associação desse tipo de linguagem com o regime Nazi.

Uma vez que a linguagem influencia acções, comportamentos e atitudes, o estudo termina com a recomendação das opções linguísticas da imprensa alemã, em detrimento das anglo-americanas, para se lidar mais eficazmente com o vírus. A sugestão faz sentido, especialmente porque, como observa a autora, virtudes bélicas são irrelevantes para travar a epidemia, enquanto o esforço médico, científico e comunicativo mostram-se mais adequados.

No entanto, o estudo é em geral pouco convincente, por várias razões. Primeiro, não é claro que na Alemanha se usariam menos metáforas bélicas no contexto da pandemia se a sua história recente tivesse sido outra. Também não é claro que o uso de certas metáforas (neste caso dos domínios da ciência e da comunicação) tenha fomentado melhores práticas na Alemanha ou que, por outro lado, a verificação de certas práticas tenha contribuído para uma melhor escolha vocabular da imprensa. Por último, o título do artigo promete mais do que aquilo que, na verdade, o estudo nos pode dar. A ideia de que o uso de retórica bélica é um fenómeno anglo-americano não fica provada através de um corpora linguístico tão limitado. Ela será fortalecida (ou não) quando se estudar a retórica relacionada com o COVID-19 em imprensas de outros países para além destes três.    

Na imprensa portuguesa, por exemplo, nomes como "combate", "luta" e "linha da frente" e verbos como "combater", "lutar" e "vencer" são comummente usados para descrever situações e actividades enfrentadas ou desenvolvidas pelas autoridades de justiça, forças de segurança e, sim, por pessoas envolvidas na área da saúde. Para já não falar do discurso político e do futebol, ou na celebrada "guerra das audiências" das televisões. Mas, claro, não fiz nem levantamento nem análise estatística de dados.

Em todo o caso, parece-me que a ideia sugerida por Jaworska é um tanto arriscada.

PS: Depois de escrever este post vi que artigos publicados no Internazionale, nos dias 22 e 30 de Março, mostram que o mesmo fenómeno já havia sido notado na Itália, o que não favorece a proposta de Jaworska.

Achado na Net (4)



O mal dele é ter sido leitura escolar. Doutro modo, até seria bom.
Sobre Discoveries and Opinions of Galileo, trad. Stillman Drake (Nova Iorque: Anchor Books, 1957).

John Donne: Death's Duel

"There we leave you, in that blessed dependency, to hang upon him, that hangs upon the cross. There bathe in his tears, there suck at his wounds, and lie down in peace in his grave, till he vouchsafe you a resurrection, and an ascension into that kingdom which he hath purchased for you, with the inestimable price of his incorruptible blood."

Assim termina o último sermão de John Donne, pregado em 25 de Fevereiro de 1631, no White Hall, perante o rei e a família real. A solenidade litúrgica era a primeira Sexta-feira na Quaresma. Donne subiu ao púlpito tão fragilizado pela doença que a congregação suspeitou que não conseguiria proferi-lo, mas, nos diz o editor da sua obra completa no século XIX (Henry Alford), que, então, uma vontade férrea energizou o fébil corpo para cumprir a tarefa sagrada que lhe havia sido confiada.

O sermão foi publicado no ano seguinte, sob o título Death's Duel, or, A Consolation of the Soul, against the dying Life, and living Death of the Body. O frontispício ainda nos diz que a casa real veio a estimar que, com ele, Donne na verdade pregou o sermão do seu próprio funeral. Em verdade, a doença mostrou-se fatal, e Donne acabou por morrer um mês depois, no dia 31 de Março.


* O ano 1630, no frontispício, é, na verdade 1631 no calendário actual. Na Inglaterra de então segui-se o calendário juliano, cujo ano civil começava a 25 de Março. 

Imagem: British Library.
Citação: Henry Alford (ed.), The Works of John Donne with a Memoir of His Life, vol. 6. London: John W. Parker, 1839, p. 298.